Videogame vira tratamento médico para
vítimas de acidentes e derrames
Pacientes com AVC, degeneração cerebral e lesões usam técnica.
Jogos trabalham movimentos, coordenação motora, equilíbrio e memória.
Desde a criação de controles sem fio e comandos sensíveis aos movimentos do corpo, o videogame deixou de ser uma atividade sedentária. E agora deixa de ser também uma opção exclusiva para quem está em busca de diversão: os jogos são amplamente recomendados por médicos e fisioterapeutas para reabilitação de jovens a idosos com problemas vasculares, degenerativos ou lesões após acidentes.“É uma terapia complementar, que deve ser feita em conjunto com a fisioterapia e outros tipos de estímulos”, diz o fisioterapeuta do Hospital Israelita Albert Einstein Gustavo Balieiro de Freitas, que atualmente atende seis pacientes em casa – a maioria com mais de 60 anos.Games como Wii (da Nintendo), Xbox (da Microsoft) e PlayStation (da Sony) ajudam a trabalhar habilidades como memória, raciocínio, atenção e equilíbrio, e a recuperar movimentos perdidos ou prejudicados. Também melhoram a destreza, a coordenação motora, a velocidade e a concentração.“O acompanhamento é importante para que o paciente faça o exercício da forma correta, e é bom lembrar que aquele período é de tratamento, não só de recreação”, afirma Freitas. Há dois anos e meio, ele trabalha com o Wii, por considerá-lo mais lúdico, fácil e simples.Segundo o fisioterapeuta, especializado em neurologia, quando há um profissional por perto a pessoa se sente mais segura e solta. A opinião é compartilhada pela terapeuta ocupacional Thais Terranova, que atua na Rede de Reabilitação Lucy Montoro, mantida pelo governo de São Paulo. “Para jogar em casa, sozinho, o paciente precisa ter a garantia de que não há riscos e a família pode ajudar”, explica.Quando vai à residência de pacientes, Freitas propõe jogos de lógica, soma, cores e esportes, como tênis, boxe, boliche e arco e flecha. “Este último ajuda principalmente os portadores de Parkinson, pois melhora a concentração e o controle sobre os tremores”, conta.Uma plataforma do Wii calcula peso, altura e índice de massa corporal (IMC) para, em seguida, propor atividades possíveis àquele jogador.“O videogame acaba sendo uma prova para ver se o paciente melhorou o desempenho, o que pode ser visto concretamente por números e pontos. É uma forma de mensurar a atividade, aumentar o grau de dificuldade ou escolher outra”, detalha Freitas.E os movimentos trabalhados durante o treino também são feitos do ponto de vista funcional, ou seja, levando-se em conta o que aquele indivíduo precisa no dia a dia. Em geral, dos três dias de terapia convencional realizados na semana, um é reservado para o game.De acordo com Freitas, o Albert Einstein está passando por reforma para adequar um espaço destinado a esse tipo de tratamento. “Acredito que para o ano que vem isso seja possível. O pedido de compra de equipamentos já foi feito”, diz. E a atividade poderá até ser realizada em grupo, o que na opinião do fisioterapeuta tem um ganho motivacional, de socialização, competição e compartilhamento.Movimentos na tela
No Instituto de Reabilitação Lucy Montoro, na capital paulista, os pacientes usam a câmera EyeToy, semelhante a uma webcam, acoplada ao PlayStation 2 e a uma TV de LCD de 32 polegadas. O aparelho capta a imagem e os movimentos do jogador, que consegue se ver na tela e ter uma melhor percepção de sua evolução.São atendidos crianças, adolescentes e adultos após traumatismos cranianos, AVC e acidentes automobilísticos, com paralisia cerebral ou limitações cognitivas e motoras. Cerca de dez pessoas por dia, de 5 a 50 anos, passam por sequências de tarefas, memorização de figuras e outras atividades.O tratamento com videogame é apenas uma parte da reabilitação, e é feito durante pelo menos uma hora, duas vezes por semana, em um período de um mês. Alguns ficam internados (ao todo, há 33 leitos) e outros vão até o local em horários específicos.“Analiso o melhor jogo, a velocidade, o grau de dificuldade, a luz, e se a pessoa precisa sentar ou se apoiar em algo”, afirma a terapeuta ocupacional Thais Terranova. Segundo ela, a imagem projetada na TV é um feedback: o paciente tem um retorno o tempo todo do que está fazendo. Assim, ele se sente ainda mais motivado a pontuar, passar de fase e ultrapassar seus limites.Jovens em recuperação
O estudante de engenharia ambiental Kaike Gorayeb, de 28 anos, sofreu um acidente de moto há um ano e meio, quando um carro bateu nele e na namorada, e teve traumatismo craniano. Ficou em coma e a internação durou dois meses. No início deste ano, durante dois meses, ele fez reabilitação no Lucy Montoro, com fisioterapia, terapia ocupacional, acompanhamento psicológico e nutricional, além do videogame.“É muito interessante, melhorou minha coordenação. Gostava dos jogos de luta, ping pong e chef de cozinha”, lembra. Em casa, Kaike joga mais no computador. “Prefiro coisas de lógica, que tem que pensar”, diz.A fala e o lado esquerdo de Kaike foram as regiões mais afetadas, e ele ainda tem variações bruscas de humor e falhas na memória. Também precisou deixar a faculdade e o cargo de supervisor em uma loja de ponta de estoque administrada pela família. “Ele estava desenganado, disseram que viveria em estado vegetativo”, conta a mãe, Márcia Gorayeb, que vive hoje em função do filho.Já o estudante João Pedro Higushi, de 14 anos, foi vítima de atropelamento no fim de 2010, quando andava de skate, teve traumatismo craniano e ficou em coma por dois meses. Em junho, internou-se no Lucy Montoro em junho, para tratamento intensivo.Ele e a família moram em Mogi das Cruzes, na região metropolitana de São Paulo, e o acidente foi em Salesópolis, mas estão na capital para a reabilitação. “Um rapaz de 18 anos sem carteira desviou de uma mulher com um carrinho de bebê e pegou meu filho na guia”, conta a mãe,
Débora Ayame Higushi.Hoje, João Pedro já mexe os braços, fala – ainda com certa dificuldade – e anda com a ajuda de um andador. Nesse período, ele perdeu cerca de 30 quilos. “Gosto de estourar bolhas de sabão e o jogo do chef de cozinha, mas às vezes evito para não ficar com fome”, brinca, ao falar sobre seus games favoritos.A recuperação desses pacientes costuma ser mais rápida nos primeiros dois anos e depois demorar mais. Segundo o neurologista Alexandre Pieri, do Hospital Albert Einstein, independentemente de ser videogame, é importante sair da cama o quanto antes e manter uma atividade na área afetada.De acordo com a fisiatra Marta Imamura, Presidente da Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação e médica do Hospital das Clínicas de São Paulo, jogos virtuais e robôs dão ritmo e constância para o cérebro funcionar. “Duas semanas de tratamento garantem melhoras por até um ano, e os membros superiores são os mais beneficiados”, diz.
Altemar Carneiro fonte g1
Videogame vira tratamento médico para
vítimas de acidentes e derrames
Pacientes com AVC, degeneração cerebral e lesões usam técnica.
Jogos trabalham movimentos, coordenação motora, equilíbrio e memória.
Desde a criação de controles sem fio e comandos sensíveis aos movimentos do corpo, o videogame deixou de ser uma atividade sedentária. E agora deixa de ser também uma opção exclusiva para quem está em busca de diversão: os jogos são amplamente recomendados por médicos e fisioterapeutas para reabilitação de jovens a idosos com problemas vasculares, degenerativos ou lesões após acidentes.
“É uma terapia complementar, que deve ser feita em conjunto com a fisioterapia e outros tipos de estímulos”, diz o fisioterapeuta do Hospital Israelita Albert Einstein Gustavo Balieiro de Freitas, que atualmente atende seis pacientes em casa – a maioria com mais de 60 anos.
Games como Wii (da Nintendo), Xbox (da Microsoft) e PlayStation (da Sony) ajudam a trabalhar habilidades como memória, raciocínio, atenção e equilíbrio, e a recuperar movimentos perdidos ou prejudicados. Também melhoram a destreza, a coordenação motora, a velocidade e a concentração.
“O acompanhamento é importante para que o paciente faça o exercício da forma correta, e é bom lembrar que aquele período é de tratamento, não só de recreação”, afirma Freitas. Há dois anos e meio, ele trabalha com o Wii, por considerá-lo mais lúdico, fácil e simples.
Segundo o fisioterapeuta, especializado em neurologia, quando há um profissional por perto a pessoa se sente mais segura e solta. A opinião é compartilhada pela terapeuta ocupacional Thais Terranova, que atua na Rede de Reabilitação Lucy Montoro, mantida pelo governo de São Paulo. “Para jogar em casa, sozinho, o paciente precisa ter a garantia de que não há riscos e a família pode ajudar”, explica.
Quando vai à residência de pacientes, Freitas propõe jogos de lógica, soma, cores e esportes, como tênis, boxe, boliche e arco e flecha. “Este último ajuda principalmente os portadores de Parkinson, pois melhora a concentração e o controle sobre os tremores”, conta.
Uma plataforma do Wii calcula peso, altura e índice de massa corporal (IMC) para, em seguida, propor atividades possíveis àquele jogador.
“O videogame acaba sendo uma prova para ver se o paciente melhorou o desempenho, o que pode ser visto concretamente por números e pontos. É uma forma de mensurar a atividade, aumentar o grau de dificuldade ou escolher outra”, detalha Freitas.
E os movimentos trabalhados durante o treino também são feitos do ponto de vista funcional, ou seja, levando-se em conta o que aquele indivíduo precisa no dia a dia. Em geral, dos três dias de terapia convencional realizados na semana, um é reservado para o game.
De acordo com Freitas, o Albert Einstein está passando por reforma para adequar um espaço destinado a esse tipo de tratamento. “Acredito que para o ano que vem isso seja possível. O pedido de compra de equipamentos já foi feito”, diz. E a atividade poderá até ser realizada em grupo, o que na opinião do fisioterapeuta tem um ganho motivacional, de socialização, competição e compartilhamento.
Movimentos na tela
No Instituto de Reabilitação Lucy Montoro, na capital paulista, os pacientes usam a câmera EyeToy, semelhante a uma webcam, acoplada ao PlayStation 2 e a uma TV de LCD de 32 polegadas. O aparelho capta a imagem e os movimentos do jogador, que consegue se ver na tela e ter uma melhor percepção de sua evolução.
No Instituto de Reabilitação Lucy Montoro, na capital paulista, os pacientes usam a câmera EyeToy, semelhante a uma webcam, acoplada ao PlayStation 2 e a uma TV de LCD de 32 polegadas. O aparelho capta a imagem e os movimentos do jogador, que consegue se ver na tela e ter uma melhor percepção de sua evolução.
São atendidos crianças, adolescentes e adultos após traumatismos cranianos, AVC e acidentes automobilísticos, com paralisia cerebral ou limitações cognitivas e motoras. Cerca de dez pessoas por dia, de 5 a 50 anos, passam por sequências de tarefas, memorização de figuras e outras atividades.
O tratamento com videogame é apenas uma parte da reabilitação, e é feito durante pelo menos uma hora, duas vezes por semana, em um período de um mês. Alguns ficam internados (ao todo, há 33 leitos) e outros vão até o local em horários específicos.
“Analiso o melhor jogo, a velocidade, o grau de dificuldade, a luz, e se a pessoa precisa sentar ou se apoiar em algo”, afirma a terapeuta ocupacional Thais Terranova. Segundo ela, a imagem projetada na TV é um feedback: o paciente tem um retorno o tempo todo do que está fazendo. Assim, ele se sente ainda mais motivado a pontuar, passar de fase e ultrapassar seus limites.
Jovens em recuperação
O estudante de engenharia ambiental Kaike Gorayeb, de 28 anos, sofreu um acidente de moto há um ano e meio, quando um carro bateu nele e na namorada, e teve traumatismo craniano. Ficou em coma e a internação durou dois meses. No início deste ano, durante dois meses, ele fez reabilitação no Lucy Montoro, com fisioterapia, terapia ocupacional, acompanhamento psicológico e nutricional, além do videogame.
O estudante de engenharia ambiental Kaike Gorayeb, de 28 anos, sofreu um acidente de moto há um ano e meio, quando um carro bateu nele e na namorada, e teve traumatismo craniano. Ficou em coma e a internação durou dois meses. No início deste ano, durante dois meses, ele fez reabilitação no Lucy Montoro, com fisioterapia, terapia ocupacional, acompanhamento psicológico e nutricional, além do videogame.
“É muito interessante, melhorou minha coordenação. Gostava dos jogos de luta, ping pong e chef de cozinha”, lembra. Em casa, Kaike joga mais no computador. “Prefiro coisas de lógica, que tem que pensar”, diz.
A fala e o lado esquerdo de Kaike foram as regiões mais afetadas, e ele ainda tem variações bruscas de humor e falhas na memória. Também precisou deixar a faculdade e o cargo de supervisor em uma loja de ponta de estoque administrada pela família. “Ele estava desenganado, disseram que viveria em estado vegetativo”, conta a mãe, Márcia Gorayeb, que vive hoje em função do filho.
Já o estudante João Pedro Higushi, de 14 anos, foi vítima de atropelamento no fim de 2010, quando andava de skate, teve traumatismo craniano e ficou em coma por dois meses. Em junho, internou-se no Lucy Montoro em junho, para tratamento intensivo.
Ele e a família moram em Mogi das Cruzes, na região metropolitana de São Paulo, e o acidente foi em Salesópolis, mas estão na capital para a reabilitação. “Um rapaz de 18 anos sem carteira desviou de uma mulher com um carrinho de bebê e pegou meu filho na guia”, conta a mãe,
Débora Ayame Higushi.
Débora Ayame Higushi.
Hoje, João Pedro já mexe os braços, fala – ainda com certa dificuldade – e anda com a ajuda de um andador. Nesse período, ele perdeu cerca de 30 quilos. “Gosto de estourar bolhas de sabão e o jogo do chef de cozinha, mas às vezes evito para não ficar com fome”, brinca, ao falar sobre seus games favoritos.
A recuperação desses pacientes costuma ser mais rápida nos primeiros dois anos e depois demorar mais. Segundo o neurologista Alexandre Pieri, do Hospital Albert Einstein, independentemente de ser videogame, é importante sair da cama o quanto antes e manter uma atividade na área afetada.
De acordo com a fisiatra Marta Imamura, Presidente da Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação e médica do Hospital das Clínicas de São Paulo, jogos virtuais e robôs dão ritmo e constância para o cérebro funcionar. “Duas semanas de tratamento garantem melhoras por até um ano, e os membros superiores são os mais beneficiados”, diz.
Altemar Carneiro fonte g1
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