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terça-feira, 27 de setembro de 2011

Grampo de chamadas em VoIP esbarra em problema de criptografia

Linhas de telefone via internet já são monitoradas no Brasil.
Nem todos os dados poderão ser lidos pela polícia.
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) divulgou dados mostrando que 750 linhas de telefone VoIP – cujos dados da chamada trafegam pela internet – foram grampeadas com autorização judicial durante o mês de agosto. A notícia mostra que o Brasil já está monitorando os dados que trafegam pela internet, mas a questão esbarra em uma tecnologia bastante polêmica: a criptografia. Dependendo de como for usada, a criptografia pode impedir que a polícia realize a interceptação.





Skype é o software mais comum para a realização de chamadas via internet (Foto: Divulgação)



A telefonia VoIP é diferente da telefonia
comum porque os dados de voz trafegam como dados de internet, o que reduz os custos de transmissão. As ligações telefônicas, especialmente as de telefone fixo, usam uma quantidade de dados maior do que o necessário para a transmissão de voz – por ser um sistema antigo – e reservam um espaço dedicado de ligação chamado de “circuito”. Ao usar o mesmo sistema da internet, que funciona com “pacotes”, o VoIP consegue ser mais eficiente, mais barato e ter confiabilidade semelhante.

Embora os dados que trafegam em qualquer uma dessas redes possam ser “embaralhados” para dificultar a ação de um grampo, o uso de computadores torna isso muito mais fácil. Existem softwares prontos para realizar esse tipo de atividade. A ideia é que os dados sejam “codificados” de tal maneira que apenas o destinatário/receptor de chamada consiga “decodificá-los”.
A maioria dos softwares de VoIP traz alguma segurança desse tipo para impedir que alguém consiga capturar dados da chamada em progresso. Isso poderia ocorrer, por exemplo, durante a utilização de uma rede sem fio pública ou em uma rede de uma empresa. O uso da criptografia mantem o utilizador protegido contra esses bisbilhoteiros.
Mesmo assim, o desenvolvedor do software VoIP pode saber qual é a “chave” usada para embaralhar e para desembaralhar o conteúdo, podendo fornecer a chave para a polícia, que poderá solicitar ao provedor de internet que realize os grampos nas chamadas VoIP. No caso do Skype, uma parte da chave é estática e fica dentro do próprio programa. Ela já foi até extraída por especialistas, mas o Skype afirma que não poderia atender esse tipo de solicitação da polícia.
De fato, as chamadas do Skype em si não passam pelo servidor do Skype. A interceptação precisa ser feita junto ao provedor e, mais tarde, decodificadas.
A Microsoft, nova dona do Skype, tem uma patente para um mecanismo para “interceptação autorizada” de chamadas VoIP.
: Se o controle da transmissão está acessível e fácil, é possível 'embaralhar' os dados para impedir interceptação (Foto: Divulgação): Se o controle da transmissão está acessível e
fácil, é possível 'embaralhar' os dados para impedir
interceptação (Foto: Divulgação)
Nos casos em que um dos terminais de uma chamada é uma linha de telefone comum, o grampo ocorre sem nenhuma novidade, já que a conexão de internet é “convertida” em uma conexão de circuito quando chega à outra ponta.
No entanto, em chamadas VoIP de computador para computador, em que o software a ser utilizado está no controle de todos os envolvidos na chamada, é possível “embaralhar” os dados de tal maneira que nenhuma interceptação seja capaz de determinar o que está sendo dito. Ou seja, ninguém além dos próprios envolvidos na chamada tem a chave para fazer decodificar a ligação.
Isso esbarra em um problema jurídico conhecido. Um computador do banqueiro Daniel Dantas ganhou o noticiário depois de resistir até mesmo tentativas do FBI para quebrar a proteção – que foi realizada com um software facilmente obtido na internet. As chamadas VoIP podem ser protegidas com tecnologia semelhante.
A única coisa que a polícia consegue determinar – e mesmo assim pode ser incorreto – é a origem e o destino de chamada. Todo o resto é difícil de determinar em um conteúdo protegido dessa forma; inclusive pode ser difícil determinar se os dados são de uma chamada VoIP e não qualquer outra informação.
Acusados já foram obrigados a fornecer as chaves criptográficas para permitir que a polícia quebre a proteção e continue a investigação na Inglaterra. No Brasil, a legislação desobriga o réu de produzir prova contra si mesmo – o que significa que ele pode não ter de fornecer a senha. Em um caso ou outro, a pessoa pode realmente esquecer a chave e, nesse caso, os dados serão muito difíceis de recuperar.
O fato é que não existe novidade no grampo de chamadas via internet em que todo o protocolo de comunicação é controlado pela operadora ou pelo desenvolvedor do software: a situação é a mesma de telefones comuns. Quando o usuário está no controle dos dados, como é o caso de chamadas de computador para computador, a adição de um código criptográfico pode tornar a ação das autoridades inviável.
A polícia pode ser obrigada a buscar outros métodos de coleta de evidências e investigação, como escutas físicas no local da vítima. Em alguns países, discute-se a possibilidade de a polícia utilizar “softwares espiões policiais”, como o “Magic Lantern” do FBI.
Enquanto a criptografia for uma possibilidade clara e simples no meio digital – e ela não pode ser proibida, pois serve aos interesses da segurança -, o trabalho das autoridades terá sim de se adaptar. Mas o VoIP, por si só, não oferece qualquer proteção contra grampos.


*Altieres Rohr é especialista em segurança de computadores e, nesta coluna, vai responder dúvidas, explicar conceitos e dar dicas e esclarecimentos sobre antivírus, firewalls, crimes virtuais, proteção de dados e outros. Ele criou e edita o Linha Defensiva, site e fórum de segurança que oferece um serviço gratuito de remoção de pragas digitais, entre outras atividades. Na coluna “Segurança digital”, o especialista também vai tirar dúvidas deixadas pelos leitores na seção de comentários. Acompanhe também o Twitter da coluna, na página 
Altemar Carneiro fonte G1
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